Econômia Taxa de juros e taxa de câmbio
Discussão
131
Setembro
de 2003
MACROECONOMIA DO BRASIL PÓS-1994
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
MACROECONOMIA DO BRASIL PÓS-1994∗
Luiz Carlos Bresser-Pereira∗∗
RESUMO
O modelo macroeconômico brasileiro tem como características: abertura financeira, uma estratégia de crescimento baseada em poupança externa, um câmbio sobrevalorizado, déficit em conta corrente, um alto nível de endividamento externo, uma taxa básica (Selic) de juros elevada, uma inflação baixa, porém, inercial, uma política fiscal frouxa, poupança pública negativa, alto nível de endividamento do estado, baixas expectativas de lucros, salários estagnados, uma taxa de poupança doméstica deprimida, baixo nível de investimento, alta taxa de desemprego e uma renda per capita próxima da estagnação. A economia brasileira atingiu uma estabilização de preços em 1994 mas, não, uma estabilização macroeconômica, na medida em que não se conseguiu um equilíbrio intertemporal e termos fiscais e nas contas externas. O crescimento só voltará se as autoridades reconhecerem que a economia do país está presa numa armadilha dupla que envolve a taxa de juros e o câmbio e decidirem inverter o processo perverso da equação macroeconômica escorada em altas taxas de juros e num câmbio sobrevalorizado. Entretanto, as ortodoxias internacional e doméstica que determinam a política macroeconômica no país, continuam a se valer da macroeconomia convencional para tentar compreender problemas não convencionais e, assim, são incapazes de atingir a tão desejada estabilidade macroeconômica.
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Trabalho publicado em Análise Econômica, 21(40) setembro 2003: 07-38.
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Luiz Carlos Bresser-Pereira ensina e pesquisa na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio
Vargas (bresserpereira@uol.com.br www.bresserpereira.org.br). Neste trabalho uso aquilo que aprendi no seminário de macroeconomia do Brasil que conduzi em conjunto com Yoshiaki Nakano em 2002 e 2003.
Agradeço a ele e aos