Dowbor
Darwin às avessas
Daniele Madureira
"Na medida em que as tecnologias permitem uma produtividade mais elevada, aparece cada vez mais como absurda uma situação em que, por um lado, há gente que se torna neurótica por excesso de trabalho, desarticulando até mesmo a vida social e a vida familiar, e, por outro, uma imensa maioria que se sente excluída do processo, pelo fato de não ter acesso ao emprego, ou por se ver obrigada a inventar formas de sobrevivência cada vez mais surrealistas." A análise do economista político Ladislau Dowbor, professor titular da pósgraduação em Economia e Administração da PUC-SP, ex-consultor do secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), chama a atenção para as agruras do mundo moderno globalizado. Autor de diversas publicações duas delas, Economia Social e O que Acontece com o Trabalho?, ambas da editora
Senac, indicadas para o Prêmio Jabuti de literatura, respectivamente, em 2002 e
2003, Dowbor aponta para a crise da motivação presente no dia-a-dia de quem tem emprego. Falta sentido de missão e espírito de grupo, características que sobram em experiências voluntárias como o Linux e a Pastoral da Criança, que alcançaram o sucesso ao aliar criatividade a um bom motivo. Para o economista, o mundo só viverá um cenário mais promissor quando transformar a idéia de
Charles Darwin: não só os mais fortes sobrevivem, mas só sobreviveremos se todos forem fortes.
Meio & Mensagem - Em um dos seus artigos, "O tempo do trabalho", você diz que as condições físicas e mentais da criatividade precisam ser repensadas. Por quê?
Ladislau Dowbor - O argumento que eu utilizei está ligado diretamente ao tempo de trabalho. Houve uma época em que se achava normal a jornada de
14 horas. Depois, na segunda metade do século 20, quando nós chegamos a equipamentos mais sofisticados, em que o sistema de produção não exigia
Ladislau Dowbor mais colaboração humana, esse tempo diminuiu para 8 horas diárias - a