Dos palabras adaptação
Tinha por nome Belisa Crepusculário não por batismo ou escolha de sua mãe, mas porque ela própria o procurou até encontrar e com ele se adornou. De família tão miserável que nem sequer possuía nomes para dar aos filhos, até 12 anos não teve outra ocupação senão a de sobreviver à fome e à fadiga de séculos.
Disposta a enganar a morte, decidiu andar em direção ao mar. Chegando a uma aldeia, o vento jogou a seus pés uma folha de jornal, pegou aquele papel amarelado e quebradiço que viria a transformar sua existência. Nesse dia, soube que as palavras andam soltas, sem dono, e q qualquer um com um pouco de manha pode pegá-las para vender.
Vender palavras tornou-se seu ofício, percorrendo o país, instalando-se em feiras onde montava sua tenda para atender a clientela. Não precisava anunciar sua mercadoria, logo que se sabia de sua presença, formavam-se filas à sua espera.
- 0,05 versos de memória
- 0,07 melhorava a qualidade dos sonhos
- 0,09 cartas a namorados
- 0,12 inventava insultos para inimigos irreconciliáveis
Também vendia contos, que eram longas histórias verdadeiras, era portadora de notícias entre os vilarejos, juntando sempre à sua volta uma multidão ansiosa por ouvi-la. A quem lhe comprasse 0,50 dava de presente uma palavra secreta para afugentar a melancolia. Cada um recebia a sua, com a certeza de que será única.
Um dia, enquanto vendia argumentos de justiça a um velho que solicitava sua pensão há 17 anos, o barulho da feira é interrompido pela nuvem de pó causada pelos cavalos dos homens do Coronel, comandados por Mulato, conhecido pela rapidez de sua faca e pela lealdade a seu chefe.
Sempre ocupados na guerra civil, os homens do Coronel estavam associados ao malefício e à calamidade, deixavam atrás de si, por onde passavam, destroços de um furacão. Sua chegada à feira provocou uma debandada geral, só permanecendo Belisa Crepusculário que não os conhecia.
- Procuro-a. –