DOR SENSAO E PERCEPO
A versão biológica da dor
Por Susana Dias
Para que serve a dor? As respostas podem ser muitas, assim como são inúmeras as sensações e percepções dolorosas. Para encher a paciência, tirar o sono, quebrar a rotina, produzir uma desordem na vida. Para punir, disciplinar, purificar e até entender a dor do outro. Também para conhecer os limites, superar desafios e saber onde começa o prazer. E, ainda, para lembrar que estamos vivos, ou que é preciso parar, descansar, ir ao médico, ouvir o grito silencioso dessa desagradável sensação. Para a maioria dos médicos, biólogos e enfermeiros, entretanto, a dor é um sinal de alerta para um perigo iminente. A principal função da dor seria a proteção do organismo. Mostrar os limites que não podem ser transgredidos. O exemplo mais clássico citado é o da mão que encosta na chapa quente e, rapidamente, é retirada devido a eficácia da via sensorial específica para a dor (a via nociceptiva, noceo quer dizer nocivo).
A dor é sempre associada a fenômenos neurofisiológicos, que são considerados iguais para todos os seres humanos. Já as diferenças nas experiências e descrições dolorosas seriam explicadas por elementos psicológicos, sociais e culturais presentes nas formas como se percebe e se vivencia a dor.
Insensibilidade à dor
Parte dos estudos sobre a neurofisiologia e evolução biológica da dor partem de pesquisas com pessoas que têm uma síndrome chamada de analgesia congênita. Com insensibilidade à dor, parcial ou total, essas pessoas não têm o sistema de alerta da dor. “É dramática a vida dessas pessoas”, relata o pesquisador Carlos Amilcar Parada, do Departamento de Fisiologia da Unicamp, que acompanhou um paciente na França com essa síndrome. Elas precisam viver em um ambiente modificado, como se fosse uma bolha, porque correm o risco de se lesionar o tempo todo. As crianças com essa síndrome machucam-se com frequência, têm escoriações, ferem língua,