Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia
Dermeval Saviani2
Num encontro de História da Educação, começar pela própria História não parece coisa vã; ainda que, como veremos mais adiante, no debate em curso atualmente ela mesma, a História, vem sendo posta em questão. Acredito, porém, que, até para nos introduzirmos de forma apropriada nesse debate, entendendo o grau, o sentido e o contexto em que a História vem sendo questionada, importa o resgate histórico do problema. Em visão retrospectiva é possível constatar que a História só se pôs como um problema para o homem, isto é, só emergiu como algo que necessitava ser compreendido e explicado, a partir da época moderna. A razão disso é relativamente simples. Enquanto os homens garantiam a própria existência no âmbito de condições dominantemente naturais, relacionando-se com a natureza através da categoria da “providência”, o que implicava o entendimento de que o meio natural lhes fornecia os elementos básicos de subsistência os quais eram apropriados em estado bruto exigindo, quando muito, processos rudimentares de transformação que, por isso mesmo, resultavam em formas de vida social estáveis sintonizadas com uma visão cíclica do tempo, não se punha a necessidade de se compreender a razão, o sentido e a finalidade das transformações que se processam no tempo, isto é, não se colocava o problema da história. A ruptura com as formas de vida acima apontadas que prevaleceram até a Idade Média dá origem à época moderna. Nesta, as condições de produção da existência humana passam a ser dominantemente sociais, isto é, produzidas pelos próprios homens. A natureza passa, assim, a ser entendida como matéria prima das transformações que os homens operam no tempo. E a visão do tempo deixa de ser cíclica, caracterizando-se agora por uma linha progressiva que se projeta para a frente, ligando o passado ao futuro por meio do presente. Surge aí a questão