Doenças emergentes e reemergentes
WALDMAN é professor do Departamento de
Epidemiologia
da Faculdade de Saúde
Pública da USP e autor de, entre outros, Vigilância em Saúde Pública
(Faculdade de Saúde
Pública da USP).
s u Doenças infecciosas emergentes e reemergentes
ELISEU ALVES WALDMAN
INTRODUÇÃO
A
circulação contínua de agentes infecciosos entre seres humanos somente foi possível a partir do
momento em que o homem passou a viver em grupos, criando condições para assumir o papel de
reservatório de microorganismos e parasitas, tarefa em parte faci-
litada pelo manejo de animais e sua utilização como alimento.
Com o crescimento da população humana e o desenvolvimento das diferentes civilizações, tivemos a ampliação progressiva do
intercâmbio entre os continentes estabelecendo-se condições para a ampla disseminação das doenças infecciosas. Populações suscetíveis que viviam em aglomerados humanos distribuídos em pontos distantes, mas localizados em rotas de caravanas de mercadores, foram sucessivamente atingidas por novos agentes patogênicos.
Exploradores e exércitos conquistadores serviram de vetores para a ampla circulação desses agentes. Esporadicamente, epidemias
de doenças como a peste, a varíola e o tifo assolavam populações, muitas vezes alterando o curso da história (Satcher, 1995).
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REVISTA USP, São Paulo, n.51, p. 128-137, setembro/novembro 2001
endêmica persistiam entre os principais problemas de saúde pública,
sendo responsáveis por elevadas taxas de mortalidade infantil e pela
baixa expectativa de vida das populações humanas. Nessa época, a falta de saneamento e as habitações insalubres constituíam ainda características das cidades; a diarréia, a varíola, a peste, a cólera e a
tuberculose eram responsáveis por elevada proporção dos óbitos,
mesmo em países desenvolvidos. Porém, no decorrer do século
XX, a ampliação do saneamento urbano, a melhora nas condições de nutrição, a elevação do grau de