Doença e pecado: lepra no imaginário cristão do ocidente medieval
RESUMO
No presente artigo, propomo-nos a discutir a relação entre a Igreja e a lepra na Idade Média, de forma a tentar compreender o referencial religioso que ligava essa enfermidade ao pecado, e os motivos pelos quais o pecador era relacionado especialmente à luxúria. O grande medo provocado por essa doença não dizia somente respeito ao temor pelo contágio, mas estava diretamente ligado à moralidade enraizada no pensamento do homem medieval. Esse medo provocou uma reação ambígua da sociedade. De um lado, o asco, representado pela marginalização e exclusão do doente do convívio social. Do outro, a compaixão movida pela exaltação da caridade por parte da Igreja, que pregava o socorro ao doente como sendo um instrumento salvífico. Dessa forma, esse artigo buscará fazer uma análise introdutória, a partir das concepções impostas pela Igreja, das implicações da lepra para a sociedade medieval, bem como o processo de constituição da representação que resultou na segregação e na marginalização dos enfermos.
Palavras-chave: lepra, pecado, Igreja, marginalização.
INTRODUÇÃO
Desde a Antiguidade, as sociedades buscam explicações diversas para fenômenos que em sua época eram de difícil compreensão. Na Idade Média o aparecimento de doenças, epidemias e pestes encontra espaço próprio nesse contexto. O referencial religioso existente na época estabelece uma estreita relação entre a lepra e o pecado.
Nesse sentido, a lepra será encarada a partir de uma visão dual: ora como castigo divino, ora como possibilidade de redenção. Essa visão dicotômica no trato com os doentes foi decisiva para a adoção das medidas de tratamento e segregação dos doentes.
O medo generalizado ocasionado por essa doença levou a sociedade medieval a extremos de segregação e paranoia, de forma que em 1321, a propagação dos boatos do envenenamento dos poços por parte dos leprosos gerou uma reação de setores sociais que dizimou uma quantidade