Doen as modernas
A maioria das pessoas passa o dia a publicar coisas, frases, fotos, nas redes sociais. E cresce sem parar esta vaidade... Rodrigo Guedes de Carvalho
1 - Todos os dias, leio quase todos os jornais. Tenho essa obrigação profissional. Vistos os assuntos mais importantes, costumo ficar-me um pouco pelas páginas de coisas mais triviais, mas que volta e meia me trazem mais clareza sobre o modo como o mundo hoje funciona, do que propriamente os grandes temas sérios. Alguns poucos jornais trazem, de quando em vez, citações do que escrevem pessoas mais ou menos famosas nas redes sociais, pelo que percebo é sobretudo Twitter e Facebook. A primeira fascinante conclusão é que a maioria destas pessoas passa o dia a publicar coisas, de frases a fotos, ou fotos com frases a condizer. Segunda conclusão é que cresce sem parança esta doença de vaidade. Não sei que outra coisa chamar a estar constantemente a contar a minha vidinha, no pressuposto de que ela é interessante e os outros querem muito saber. Mas é uma epidemia: gente que nos diz que acordou bem-disposta porque está sol, gente que dormiu mal porque a bebé chorou de noite, gente que nos informa que hoje o ginásio foi duro porque o professor trouxe uma nova coreografia. E as minhas preferidas: as que escrevem pensamentos profundos e originais, que nos dão um abanão e nos deixam nas nuvens todo o dia, do género “estive a pensar e acho que a felicidade pode estar nas pequenas coisas e o amor é a força que realmente move a nossa vida”. Só as maravilhas que se encontram dariam para um mês de crónicas. Por hoje, concentro-me numa que me chamou a atenção, porque, apesar de já ter visto incontáveis demonstrações de clubismo, nada me preparava para este patamar. Pelos vistos, o jogador do Benfica Nélson Oliveira “postou” uma foto com um comentário. E o que eram? Bom, o texto dizia qualquer coisa como “que maravilha uma refeição romântica com a melhor namorada do mundo”, blá, blá, blá. Uma ternurinha como tantas