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O surgimento das cidades
Cumpre sublinhar que o aparecimento e a proliferação de cidades pelo mundo antigo, na Mesopotâmia, no vale do Nilo e no vale do Rio Indo, e mais tarde na China, na bacia do Mediterrâneo e na América das civilizações pré-colombianas, teve relação não apenas com as inovações técnicas que permitiram a agricultura e a formação de excedentes alimentares capazes de alimentar uma ampla camada de não-produtores diretos — com destaque, aqui, para a irrigação em larga escala —, mas com mudanças culturais e políticas profundas, mudanças da ordem social em geral.
A regra foi a de que o surgimento de formas centralizadas e hierárquicas de exercício do poder; e, com efeito, foi justamente a formação de sistemas de dominação, com monarcas e seus exércitos, que permitiu, ao lado das inovações técnicas, uma crescente extração de excedente alimentar, sobre o fundamento da opressão dos produtores diretos.
Os impérios da Antiguidade foram, além disso, disseminadores de cidades, como observou Gideon Sjoberg [professor do Departamento de Sociologia da Universidade do Texas em Austin], pois elas eram pontos de apoio para manter a supremacia militar nas regiões conquistadas.[...]
Recapitulando: as primeiras cidades surgem como resultado de transformações sociais gerais — econômicas, tecnológicas, políticas e culturais —, quando, para além de povoados de agricultores (ou aldeias), que eram pouco mais que acampamentos permanentes de produtores diretos que se tornaram sedentários, surgem assentamentos permanentes maiores e muitos mais complexos, que vão abrigar uma ampla população de não-produtores: governantes (monarcas, aristocratas), funcionários (como escribas), sacerdotes e guerreiros.
A cidade irá, também, abrigar artesãos especializados, como carpinteiros, ferreiros, ceramistas, joalheiros, tecelões e construtores navais, os quais contribuirão, com suas manufaturas, para o florescimento do comércio entre os povos. Em vários sentidos, por