Do patrimonialismo ao estamento
De Dom João I a Getúlio numa viagem de seis séculos uma estrutura-político social resistiu a todas as transformações fundamentais e desafios profundos. O capitalismo politicamente orientado moldou a realidade estatal sobrevivendo e incorporando o capitalismo moderno.
A comunidade política conduz os negócios como privados e como negócios públicos depois. A sociedade se compreende no âmbito de um aparelhamento a explorar e dessa realidade se projeta a forma de poder, institucionalizada num tipo de domínio: o patrimonialismo.
A liberdade pessoal assume o papel principal reduzindo o aparelhamento estatal a um mecanismo de garantia do indivíduo, sendo somente a lei o que legitima a relação entre os dois setores. É o que se chamou de ‘’Estado burguês de direito’’, que traduz o esquema de legitimidade do liberalismo capitalista.
A crítica de fonte liberal se junta, paradoxalmente, no mesmo sentido, a crítica marxista. Ambas ao admitirem a realidade histórica do Estado patrimonial, comparam a estátua imperfeita a um tipo ideal (o ponto de referência é o capitalismo moderno).
A realidade histórica brasileira demonstrou ‘’a persistência secular da estrutura patrimonial.
O caminho burocrático do estamento não desfigura a realidade fundamental, que é impenetrável às mudanças -> o patrimonialismo pessoal se converte em patrimonialismo estatal, que adota o mercantilismo como a técnica de operação da economia. Daí se arma o capitalismo político ou capitalismo politicamente orientado.
A compatibilidade do moderno capitalismo com esse quadro tradicional equivocadamente identificado ao pré-capitalismo, é uma das chaves a compreensão do fenômeno histórico português-brasileiro ao longo de muitos séculos de assédio do núcleo ativo e expansivo da economia mundial, centrado em mercados condutores numa pressão de fora para dentro.
O patrimonialismo se amolda às mudanças em caráter flexivelmente estabilizador do modelo externo,