Do Patriarcado ao Coronelismo Eletrônico: As origens do povo brasileiro e seu reflexo na atualidade
Povo cordial, com muita vontade de alegria, apesar de sacrificado. Passional, relacional e paradoxal, o brasileiro vive em um país onde “tudo depende” e em que é mais fácil “ficar em cima do muro”.
Sociólogos, antropólogos e historiadores buscam no passado as respostas para a personalidade e a conduta do povo que aqui se formou. O personalismo, o patriarcalismo, o patrimonialismo e o coronelismo, práticas tão recorrentes desde os tempos da colonização se mantém atuais e representam verdadeiro obstáculo à formação de uma democracia plena, que se estenda de maneira satisfatória a toda a população.
Sérgio Buarque de Holanda, no livro Raízes do Brasil, dá foco às características do povo ibérico e ao modo de fixação dos portugueses no Brasil como causas principais da formação da cultura nacional. Portugueses e espanhóis atribuíam grande importância à autonomia do indivíduo, em que “cada qual é filho de si mesmo, de seu esforço próprio, de suas virtudes”; sobrepõem o prestígio pessoal ao prestígio hereditário e possuem propensão a valorizar a ética das relações pessoais em detrimento da ética do trabalho, o que caracteriza o personalismo ibérico, notadamente herdado pelos brasileiros.
Para o autor, tais traços da personalidade ibérica colaboram para a ausência de uma coesão social tipicamente moderna e uma frouxidão das instituições. Se a autonomia exacerbada pressupõe a ausência de solidariedade e ordenação, dificilmente se pode conceber a noção de um Estado que se configure a partir de um conjunto de cidadãos. Esse tipo de mentalidade impediu o desenvolvimento do espírito de organização espontânea, tão característico dos povos protestantes, e sobretudo calvinistas.