Do inobjeto

1627 palavras 7 páginas
Vilem Flusser

DO INOBJETO

Esse texto, cujo original datilografado foi encontrado nos Arquivos Flusser (Flusser Archiv), na Escola Superior de Arte e Mídia de Colônia (Kunsthochschule für Medien Köln), faz parte de uma série de reflexões que o autor desenvolveu acerca dessa nova categoria de objetos informacionais, por ele chamados de “inobjetos”. Após a sua morte em 1991, Flusser tornou-se reconhecido pela comunidade internacional como um dos mais importantes pensadores do Ocidente, ao lado de Jean-François Lyotard, Jean Baudrillard e Paul Virilio, por suas reflexões acerca o impacto das novas tecnologias na cultura como um todo. O manuscrito original não se encontra datado, mas podemos supor que ele pertence à série dos anos oitenta, período de intensa atividade produtiva do filósofo. (Mario Ramiro)

A nossa circunstância era composta, ainda recentemente, de objetos. De casas e móveis, de máquinas e veículos, de roupas e sapatos, de livros e quadros, de latas e garrafas. Havia, naquele tempo, gente em nosso entorno, mas as ciências “humanas” tinham objetivado tal gente. Ficou tão calculável e manipulável como qualquer outro objeto. A circunstância toda era objetiva. Querer orientar-se em tal circunstância era distinguir entre objetos. Por exemplo: entre os objetos da natureza e os da cultura. A roseira contra a parede da minha casa será objeto natural, por crescer e por ser assunto da botânica, essa ciência da natureza? Ou será objeto artificial, por ter sido plantada por jardineiro em obediência a determinado modelo estético? E minha casa será objeto artificial, por ser a arquitetura uma “arte”? Ou será ela objeto natural, por ser “natural” que homens façam casas, como pássaros fazem ninhos? A distinção entre natureza e cultura é duvidosa. Igualmente duvidoso é não importa que outro critério para distinguirmos objetos. Por exemplo: distinguir entre objetos intransportáveis e transportáveis, “imóveis” e “móveis”. País parece ser objeto imóvel, mas a

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