Diários de campo na prática de ensino: um gênero discursivo em construção
Raquel Salek Fiad[1]
IEL/UNICAMP
Lilian Lopes Martin da Silva
FE/UNICAMP
1. Os Diários de Campo na Disciplina Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em Língua Portuguesa
Após três anos freqüentando as aulas do curso de Licenciatura em Letras da Unicamp, os alunos que se matriculam nesta disciplina, já no último ano, são convidados a várias mudanças: de lugar, de posição e de expressão oral e escrita. De alunos de um curso que concentra suas atividades na universidade passam a estagiários, num campo previamente mapeado, que pode ser uma instituição de ensino formal, em geral pública, ou um local de educação não formal. Assim, parte do programa de formação desta disciplina desenrola-se neste novo lugar e parte na universidade. De alunos sistematicamente convidados à leitura de textos e ao silêncio da escuta, ou ao esforço da interpretação, da análise e do comentário oral em aula, passam a ser desafiados a olhar para a escola e para a sala de aula e a atuar nesta realidade complexa para, nos momentos de supervisão na universidade, narrar para o grupo as experiências vividas e refletir sobre elas. De alunos acostumados a uma produção escrita de textos, como fichamentos, resumos, resenhas e monografias, gêneros mais comuns na vida acadêmica, são estimulados para a produção de uma expressão mais narrativa, subjetiva e parcial, como os diários. Assim é que ao longo do ano cada aluno vai elaborando seu diário, na maior parte dos casos em escrita manuscrita, que tem como suporte o caderno universitário ou a brochura. É com certo estranhamento que recebem a proposta de elaboração do diário e as orientações dadas pelo professor. Hesitantes, logo após os primeiros contatos com o campo de estágio selecionado, costumam vir mostrar o material e as anotações pedindo a confirmação para o que vêm desenvolvendo como escrita. Neste início, o trabalho