Diversos
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA. PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA – Cargos 13 a 25
A miséria está nos modernizando Arnaldo Jabor Na semana passada, escrevi sobre um menino pobre que fazia malabarismo na rua, diante de meu carro e muitos se emocionaram em cartas, e-mails. Gosto do texto - é bom, mas tive uma sensação de culpa por fazer sucesso com a miséria dos outros. De certa forma, eu lucrei. O menininho malabarista (onde estará ele agora?) enobreceu-me. Ou seja, miséria dá lucro. Falar da miséria nos alivia porque para nós, os bacanas, a miséria é apenas um problema existencial. Na verdade, para entendermos o horror que nos envolve, há que analisar os que "não" são miseráveis, os ricos, as classes médias, a estrutura do país, a formação torta do Estado. E não basta a velha tese da "injustiça social". Temos de entender como a miséria está "dentro" de todos nós, como ela se entranha em nosso egoísmo, na busca maníaca de felicidade e prazer, em nossa fome de consumo, na angústia, nos amores e no sexo. Ali, no carro blindado, diante do menino, tinha de analisar a mim mesmo; eu faço parte da miséria. Onde estava a miséria em mim, naquela noite? Estava no fato de eu ter carro? Não. Mas talvez estivesse na blindagem, não do carro, mas na blindagem de nossos corações contra o lado de fora da vida. Não basta sofrermos com o "absurdo" da miséria. Ela é uma construção minuciosa por um sistema complexo. A miséria não é absurda, é uma produção. A miséria está na alma dos que se lixam para ela, mas também está naqueles que se acham seus proprietários, que a consideram seu latifúndio ideológico. A miséria dá a eles o alívio hipócrita de serem "contra" ela. Transformar a miséria em bandeira política, sem entender o conjunto que nos inclui, é uma atitude miserável e dá nos vexames a que temos