Diversos
Como seriam as ruas se também não perdêssemos de vista nosso próprio sol interior? Se deixássemos que nossos peitos ardam conforme seu próprio ritmo, não o ritmo dos outros, o ritmo alheio, alienante, que só nos coloca cansaço?
Como tudo seria se alinhássemos nossos sóis,... cada um com sua própria chama particular? Se tudo o que sentimos quando estamos apaixonados pudesse ser vivido numa constante e toda pessoa pudesse ser, sinceramente, chamada de pessoa amiga?
Também tenho pensado em como seria tudo se as pessoas não deixassem suas atividades morrerem em si mesmas. Como seria, por exemplo, se minhas amigas poetisas e meus amigos poetas não escrevessem apenas para colocar os versos na gaveta? Não que eu ache que eles sejam obrigados a declamar ou nada do tipo - não são obrigados a nada -, mas como seria se aqueles que realmente querem sair por aí declamando, quebrando o silêncio, não tivessem vergonha e o fizessem constantemente, mundo a fora?
Como seria se a poesia fosse ouvida quando ela não costuma ser ouvida, se fossem escritas não como artefatos mas de fato como parte da vida das pessoas? Se as próprias pessoas se vissem ali escritas, e não tratassem a poesia como um objeto de cultura?
Como seria se toda a noção de "autor" fosse derrubada, pelo menos no sentido que é concebida, como algo mercadológico, como "direito intelectual", como se fosse um grande monumento? Como seria, então, se as pessoas reproduzissem e se apossassem daquilo que lhes é direito por também pertencer a elas, ainda que pudessem manter o respeito pela pessoa que escreveu tudo aquilo, não porque ela é uma "autora" consagrada, mas porque é uma pessoa, com vida, história e lutas?
E isso não para na poesia, mas se estende a toda nossa vida moderna: como você olharia para mim se não precisasse me fragmentar em termos como "jovem", "branco", "classe