Ditadura
Se provavelmente não conseguiu explicá-la ou justificá-la para si mesmo — até porque esta é uma tarefa impossível, reservada apenas aos deuses, se é que estes ainda existem —, pelo menos deixa-nos um legado de um Brasil que, mal ou bem, existiu até 1964 e que foi destruído — com a interrupção do destino que havia sido traçado para muitas vidas — em nome de ideais que, hoje, vistos à distância de quase meio século, não valiam a pena ser defendidos.
Nem do lado daqueles que exercitaram os piores sentimentos da espécie humana, torturando, mutilando e matando seus semelhantes, nem daqueles que lutaram por uma quimera, a de um mundo mais justo e mais bem dividido, que, no fundo, não passaria de um regime em que uns poucos mandariam muito (e igualmente viveriam bem) e muitos viveriam numa habitação coletiva ou, se tivessem sorte e amigos influentes, num apartamento de um pardieiro subsidiado pelo Estado.
Hoje, depois de tanto sofrimento e desilusão, conclui-se que nada daquilo valia a pena. Até porque muitos dos perseguidos daqueles tempos, em meio aos aproveitadores de plantão e aos oportunistas de todas as ocasiões, continuam ainda por aí a meter os pés pelas mãos, como a mostrar que, do outro lado, também não havia santos. E que, se tivessem vencido a tal “guerra suja”, também não nos teriam dado um mundo melhor. Até porque não se sabe o que essa gente seria capaz de fazer se também