Dissertação
Fonte: Folha.com, Luiz Rivoiro
O que é um filme "para crianças"? Ou, reformulando, o que seria um filme "adequado" para menores? Assim como uma infinidade de questões acerca do futuro da humanidade, essa é uma pergunta que me faço quase todos os finais de semana quando me pego planejando com os garotos a nossa próxima ida ao cinema. Muita gente pode achar isso tolice, já que tem a resposta na ponta da língua: "Ora, qualquer produção que apresente bichinhos fofos, animais falantes ou crianças espertinhas, algo como Backyardigans e Pinky Dinky Doo, certo?" Huuuummm... Sim. Não. Mais ou menos.
Cada vez mais, no entanto, a chamada indústria do entretenimento vem se sofisticando e introduzindo questões complexas em suas produções voltadas para o público infantil. Já falei aqui, por exemplo, de UP - Altas Aventuras, da Pixar. Seu foco é obviamente a criança, mas é impossível ignorar o apelo e a enorme carga de significados que sua sequência inicial sobre a passagem do tempo, vida e morte capaz de tocar fundo qualquer adulto e, ainda assim, encantar o público infantil. Esse é apenas um exemplo de temas ditos "adultos" introduzidos de forma consciente em tramas aparentemente pueris. Há outros, claro, como a questão da preocupação com o futuro do planeta em Wallie., também da Pixar, ou a descoberta do ser "humano" para além da aparência exterior em Shrek, da Dreamworks, ou ainda sobre a consolidação da amizade apesar das diferenças, como vemos em A Era do Gelo, da Fox. Mas não é só isso. Para além dos chamados temas "nobres", existe uma outra vertente. Mais cruel. E, ao meu ver, igualmente necessária.
Nesta categoria, encaixam-se especificamente os filmes dirigidos/produzidos por Tim Burton. Seus personagens quase sempre não são bonitos. Muito pelo contrário. São feios. Melhor, horrorosos. Por dentro e por fora. Expõem na sua bizarrice o que há de pior no ser humano. Dê uma olhada em A Fantástica Fábrica de Chocolate, por exemplo. Ninguém ali,