Disputas cartográficas e lutas sociais: sobre representação espacial e jogos de poder
Palavras chave:
Abstract
Keywords: Iniciativas recentes apontam o surgimento de cartografias com denominações como “novas cartografias sociais”, “cartografias participativas”, “cartografias da ação”, “contramapeamentos”, entre outras. Tais cartografias se distinguem pela representação de aspectos da realidade (fenômenos, processos, elementos, atores, ações, etc.) pouco valorizados nas representações espaciais cartográficas hegemônicas – aspectos transformados em “nãoexistências”, como nos diz Boaventura de Souza Santos. Elas ganham distinção, também, pela produção de novas formas de representar, rompendo com as convenções cartográficas, e por variados processos participativos de produção – o que contempla distintas relações de poder/saber entre os tradicionais detentores dos meios de produção cartográfica e grupos sociais envolvidos nas realidades representadas. Paralelamente, as tecnologias de representação espacial vêm se multiplicando e tornando mais capazes e difundidas, num processo que reúne distintos tipos de usuários e produtores de tecnologia (p. ex, profissionais cartógrafos, geógrafos, e grandes empresas como Google, ESRI, etc.). Neste sentido, o presente trabalho analisa a emergência de disputas no campo cartográfico, disputas que envolvem relações de poder na esfera da representação espacial – disputas “sociais”, mas também sobre o que é validado enquanto cartografia, enquanto representação da realidade e que, portanto, exerce influência sobre ela. A valorização política e analítica da dimensão espacial de fenômenos, processos, objetos e atores coloca os instrumentos de representação espacial cada vez mais no centro de disputas de poder. Esta valorização do espaço é que faz com que a cartografia cada vez mais se cruze com jogos e disputas, ou, ela própria se torne objeto de disputa. Nossa leitura da cartografia enquanto campo de disputas parte da análise de um conjunto de 30 “experiências” – denominação genérica que singulariza, na