Direito

Deus Existe.
Em 1970 eu morava em Teresina e minha mãe em Belém do Pará. De férias do trabalho resolvi visitá-la. Férias findas, minha mãe disse-me que retornaria comigo e com isso se iniciava um dos maiores tormentos que tive na vida.
Na véspera de nosso retorno um movimento estranho se iniciou em nossa casa, especialmente na cozinha. Aves eram sacrificadas, condimentos desembrulhados, grãos lavados. Foi quando me dei conta de que um banquete de despedida estava sendo preparado. Pela grandiosidade do evento e exageros à parte achei que todos os moradores da Passagem Elvira, no bairro do Marco, onde morávamos, seriam convidados. Mas qual não foi a minha surpresa quando minha mãe, na maior naturalidade do mundo me disse que aquela comida levaríamos para a viagem.
Por mais que eu explicasse que os ônibus tinham pontos de apoios, paradas para almoço e lanches, não dava mais para abortar aquela comilança.
Quando embarcamos no Terminal Rodoviário de Belém pelo menos três baús abarrotados de alimentos e água engarrafadas. Pagaríamos muito mais por excesso de bagagens que pelas nossas passagens. A viagem transcorrera sem nenhum problema até Imperatriz-MA. Os tormentos se iniciaram quando passamos para outro transporte, Empresa Estrela Dalva que nos levaria até Teresina.
Verdade que o ônibus não prestava, mas a estrada era de toda ruim. Estrada carroçável em terra batida, solo siltoso em maior parte, curvas sem contas o que impedia uma melhor velocidade. O inverno no fim de janeiro já tinha pegado forte e nunca se poderia dizer com exatidão o tempo que esse percurso duraria. Na realidade, passar por ali onde no futuro se construiria a BR-226, era uma aventura e única opção.
No dia seguinte, por volta das 17:30 horas, o sol descendo rapidamente para o ocaso, no meio do nada, sem uma casa a menos de oitenta quilômetros para frente ou para trás, entre as cidades maranhenses de Porto Franco e Grajaú, o nosso bendito ônibus quebrou por não suportar tantos solavancos.