Direito
O Estado de S.Paulo
Dirigentes europeus têm se mostrado insatisfeitos com as queixas brasileiras de que eles obrigaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) a ignorar repetidamente os próprios procedimentos no resgate financeiro de economias em dificuldade da zona do euro. Mas as reclamações brasileiras são legítimas. Aliás, a questão real tem menos a ver com resmungos europeus e mais com a razão por que outros países não se uniram ao Brasil expressando preocupações similares com a excessiva cooptação do FMI pela Europa.
Comecemos com um breve histórico para contextualizar, ao menos em parte, a questão parcial.
Após muitas discussões internas e uma grande dose de hesitação inicial, dirigentes europeus decidiram, em 2010, envolver o FMI no resgate das economias periféricas em dificuldade da zona do euro. A decisão foi movida pelo desejo de aproveitar a expertise e a experiência do FMI em crises de dívida, bem como o fato de que o financiamento do FMI diminuiria o fardo das finanças europeias.
Os dirigentes europeus esperavam também que, com a introdução de um componente "tecnocrático", o envolvimento do FMI ajudaria a despolitizar uma situação inerentemente delicada. Por exemplo, em vez de sugerir que os alemães estavam impondo uma austeridade penosa à Grécia, a narrativa comum caracterizaria a situação como um salvamento tecnocrático multipartes coordenado de um difícil problema de endividamento e déficit.
Três anos depois, a decepção é geral.
Os resultados ficaram aquém das expectativas. Países como a Grécia nem superaram seu problema de dívida nem restauraram as condições de crescimento e criação de empregos. A fadiga do ajuste é um problema, assim como a fadiga do salvamento entre muitos dos principais credores da Grécia.
É dispensável dizer que o jogo da atribuição de culpa corre solto. O exercício de apontar o dedo não se limita a partes dentro da Europa. Tem havido relatos de tensões e conflitos também