Direito
A discussao sistematica sobre o potencial de religioes em gerar, promover ou intensificar conflitos refere-se, sobretudo, a historia e a convivencia atual das tres grandes religioes monoteistas. Essa tendencia mostra-se em titulos de publicagoes como Violencia e Religiao — Cristianismo, Islamismo, Judaismo — tres religioes em confronto e didlogo (Bingemer 2001), bem como em citagoes do tipo: "Sabe-se e a midia confirma cotidianamente que religioes nao sao fontes [...] de paz e amor. Pelo contrario, muitas vezes elas ate aumentaram o potencial de conflitos ja existentes entre os povos. Isso vale, em primeiro lugar, para Judais- mo, Cristianismo e Isla." (Bauschke 2004:1). Enquanto o discurso academico sobre o tema parte da hipotese de que as tres citadas "religioes de livro"1 representam o topo de hierarquia da relevancia, o Budismo e geralmente tratado como uma especie de "contramodelo"; esse tratamento decorre de uma atribuigao de "ultrapacifismo" a religiao e a sua indiferenga diante das "diligencias efemeras" do mundo. Essa idealizagao pode ser observada na justificativa de "traigoes excepcionais" para com os altos prin- cipios eticos universais do Budismo, dada nos casos de eventos e tendencias contrarios a estes, encontrados no seio da religiao. 12 Religiao e Sociedade, Rio de Janeiro, 26(1): 11-30, 2006 Essa negligencia tern uma longa tradigao. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), em sintonia com outros pensadores da sua epoca, caracterizou os monasterios budistas como