dialogos
Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais as que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras. (Neruda, Confesso que vivi, p.58)
Esse texto me remete a ideia da memória, que faz permanecer vivos os conhecimentos tradicionais na força da oralidade, enquanto capacidade de ligar o tempo presente com o passado, principalmente por meio da revisitação contínua que os anciãos fazem ao passado. A sua perda, a perda das tradições, afasta o homem de suas raízes, e o impede de compreender o presente.
Certa vez ouvi um indígena Terena dizer que caminhar em direção ao futuro é caminhar nas trilhas dos antepassados.
Pensando em diálogo de saberes podemos ver que o conhecimento tradicional, dos detentores destes saberes necessita ser trazido para o bojo de nossa academia de nossos espaços de gestão.