Desilusão e destino

DESILUSÃO E DESTINO

Num inverno malicioso que buscava afrontar, Ana admirava a lareira que a acalmava o coração em palpitações de ânsias provocadas por um e-mail recebido de um certo alguëm. Este, que na intimidade singular, deveras amou e que jamais pode desfrutar dos delírios que havia prometido a ela. Na mensagem lida, sob soluços e arrepios, debruçou-se sobre as frases que soavam como poesias eróticas, a arrancavam da cadeira onde estava e levavam-na ao universo superior e pecaminoso da mente imatura e adolescente. Este não foi o único que chegara até ela. A cada novo e-mail seus suspiros de desejo faziam-na levitar sobre a cama que deveria ser um dia alcova de seus prazeres noturnos. Dizeres sempre mais insinuantes que passavam a comandar seus movimentos e coordenar os seus dias. Limitou seus pensamentos em alguém que em breve se entregaria a ela como se entregou à primeira no passado. Mais uma mensagem de desejo ardente chega e a faz transbordar de paixões infindas. Ana não resistiu a espera e propôs um encontro amoroso para se deliciarem do desejo que seria sacramentado numa cama de motel. Esperou pela resposta como quem aguarda pelo juízo final para condenação ou absolvição. Mas ao chegar, trouxe consigo uma tsuname que avassalaram-na por todo resquício de corpo que ainda podia sentir dor. Foi então que a pior e mais dolorida mensagem recebida lhe disse “não” e, desprovido, alegou casamento e que se envergonharia de trair a companheira amiga. Ela perdeu o chão. Todas as suas expectativas caíram por terra. Neste momento estragulou seu riso e desvaneceu dentro da cama que esperou que fosse deles, numa noite em que seus sonhos mais aluciantes seriam saciados por aquele alguém desabonado. Os sentimentos de amargura e infelicidade que desabaram de seus olhos, desceram pelo seus rosto e corpo, e encontrou no chão um caminho de fuga, no qual ela não podia se incluir. A desilusão a fez mergulhar num oceano escuro e sem destino previsto. Dias e noites de