Desenvolvimento humano e violência de gênero
Este artigo objetiva explicar a etiologia da violência de gênero a partir da ótica sistêmica da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano. Desenvolvida no fim da década de setenta por Bronfenbrenner (1979/2002, 2004), esta teoria multidimensional foi aplicada como uma ferramenta heurística em estudo sobre violência interpessoal: para compreender a agressão, inicialmente, contra crianças (Garbarino & Crouter, 1978) e, posteriormente, contra jovens e adultos (Heise, 1998). Sua estrutura propõe a relação entre os níveis Processual, Pessoal, Contextual e Temporal (PPCT) sobre o comportamento humano, considerando a violência como um produto deles (Bronfenbrenner, 2004).
Estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) (Hartigan, 1997; Krug, Dalhberg, Mercy, Zwi, & Lozano, 2003) relatam não existir nenhum país, cidade ou comunidade imune à violência. No Brasil, a violência contra a mulher é um dos maiores problemas de saúde pública, atingindo um quarto da população (Jacobucci & Cabral, 2004). Apesar da elevada freqüência, Saffioti (2004) acentua faltar fidedignidade dessas informações, sendo sua incidência de 45% ou mais, pois as agressões psicológicas (manipulações verbal e comportamental, insultos, chantagem e isolamento) são raramente percebidas como violência por não serem atos imoderados e/ou cruéis que deixam danos físicos severos (Martins & Bucher-Maluschke, 2005). O que ocorre no Brasil, para Saffioti (2004), é que a violência psicológica contra a mulher se tornou tão corriqueira que deixou de ser percebida como agressão.
Nível pessoal
Para a Teoria Bioecológica de Bronfenbrenner (2004), as características biológicas, cognitivas, emocionais e comportamentais da pessoa, durante o ciclo vital, produzem, dinamicamente, a maneira como ocorrem suas relações interpessoais, podendo essa maneira facilitar a violência no casal. Dados epidemiológicos