Desenvolvimento da linguagem de surdo
Do ponto de vista teórico por mim assumido e que compartilho com vocês neste texto, é impossível falar de ensino-aprendizagem sem discutirmos, antes, desenvolvimento de linguagem, considerando que ela é a base para a construção de todas as funções mentais superiores. Por sua natureza, em essência, social, a linguagem desenvolve-se nas relações que estabelecemos com outro(s), nos diferentes contextos sociais em que somos inseridos; desse modo, para desenvolvê-la, devemos estar em relação com outros que utilizem uma língua que nos seja acessível - no caso de crianças surdas, a língua de sinais. Apenas deste modo, o desenvolvimento de linguagem da primeira língua entre crianças ouvintes e surdas pode ser entendido como análogo.
Visando a uma maior compreensão e proximidade de vocês com os conceitos aqui abordados, acredito que a leitura de alguns textos se fará necessária (se não neste momento do Curso, posteriormente). Sugiro a leitura da obra Pensamento e Linguagem de Vygotsky (19341/1982)2 e do capítulo Pré-história da linguagem escrita (VYGOTSKY, 1931/1984). Trago para este texto apenas as ideias principais destes trabalhos.
Desde o nascimento, o bebê humano é colocado em relações peculiares com os adultos que estão ao seu redor; desta forma, todo seu contato com a realidade (incluindo aqueles relacionados às funções biológicas mais elementares) é socialmente mediado. Nestas relações, ocorre o que Pino (2005) denominou “desenvolvimento cultural”, ou seja, o processo no qual há “uma espécie de transposição coletiva para o indivíduo, transposição que tem lugar ao longo da existência do indivíduo pela conversão das funções sociais em funções pessoais” (PINO, 2005, p.50). Para este autor, se há neste processo uma conversão, é porque existe um mediador responsável por ela, da ordem da significação – logo, da linguagem - por meio do qual o bebê será inserido nas relações humanas e nas práticas sociais pelo outro.
Compreende-se,