DENTADURAS DUPLAS
Inda não sou bem velho para merecervos...
Há que contentarme com uma ponte móvel e esparsas coroas.
(Coroas sem reino, os reinos protéticos de onde proviestes quando produzirão a tripla dentadura, dentadura múltipla, a serra mecânica, sempre desejada, jamais possuída, que acabará com o tédio da boca, a boca que beija, a boca romântica?...) Resovin! Hecolite!
Nomes de países?
Fantasmas femininos?
Nunca: dentaduras, engenhos modernos, práticos, higiênicos, a vida habitável: a boca mordendo, os delirantes lábios
apenas entreabertos num sorriso técnico e a língua especiosa através dos dentes buscando outra língua, afinal sossegada...
A serra mecânica não tritura amor.
E todos os dentes extraídos sem dor.
E a boca liberta das funções poético sofísticodramáticas de que rezam filmes e velhos autores. Dentaduras duplas: daime enfim a calma que Bilac não teve para envelhecer.
Desfibrarei convosco doces alimentos, serei casto, sóbrio, não vos aplicando na deleitação convulsa de uma carne triste em que tantas vezes me eu perdi. Largas dentaduras, vosso riso largo
me consolará não sei quantas fomes ferozes, secretas no fundo de mim.
Não sei quantas fomes jamais compensadas.
Dentaduras alvas, antes amarelas e por que não cromadas e por que não de âmbar? de âmbar! de âmbar! feéricas dentaduras, admiráveis presas, mastigando lestas e indiferentes a carne da vida!
Questões:
1) Quais os sentidos que a imagem das dentaduras duplas assume no poema?
2) Que espera o eu líricos das dentaduras duplas
?
3) A penúltima estrofe do poema apresenta, em seu último verso, um pronome oblíquo cuja posição inesperada na frase produz efeito expressivo. Explique.