Definindo a cidade - raquel rolnik
O espaço urbano deixa de se restringir a um conjunto denso e definido de edificações para significar, de maneira mais ampla, a predominância da cidade sobre o campo. Periferias, subúrbios, distritos industriais, estradas e vias expressas recobrem e absorvem zonas agrícolas num movimento incessante de urbanização. No limite, este movimento tende a devorar todo o espaço, transformando em urbana a sociedade como um todo.
A cidade como um ímã
Os primeiros embriões de cidade que temos notícia foram os zigurates, templos que apareceram nas planícies da Mesopotâmia em torno do terceiro milênio antes da era cristã. A construção do local cerimonial corresponde a uma transformação na maneira de os homens ocuparem o espaço. Plantar o alimento, ao invés de coletá-lo ou caçá-lo, implica definir o espaço vital de forma permanente. A garantia de domínio sobre este espaço está na apropriação material e ritual do território.
O templo era o ímã que reunia o grupo. Deste modo, a cidade dos vivos e dos mortos precede a cidade dos vivos, anunciando a sedentarização - a Bíblia se refere a esta passagem com a experiência da Torre de Babel. Sua construção implicava na existência de um trabalho organizado, o que por sua vez estabelecia a necessidade de alguma forma de normalização e regulação internas. Assim, os construtores de templos, ao mesmo tempo que fabricavam um habitat sobre a natureza primeira, se organizavam enquanto organização política, lançando-se conjuntamente em um projeto de dominação da natureza. No castigo divino, embaralhar as línguas era impossibilitar a comunicação entre os homens, impedindo que se espalhassem por toda a Terra e o que deveria uní-los, acabou por separá-los. O Mito de Babel expressa a luta do homem por seu espaço vital, no momento de sedentarização e a divisão irremediavelmente dos homens em nações aponta para a constituição da cidade propriamente dita. Esta será a cidadela, em guerra permanente contra os inimigos, na