De quem são esses pés?
CÁTIA LUZ
Nos anos 80, uma autoridade que permitisse ser fotografada usando sandálias de borracha não deixaria dúvidas sobre suas intenções populistas. Só mesmo a pretensão de mostrar intimidade com o “povão” levaria “gente fina” a exibir-se com os pés calçados com chinelos que eram marca registrada dos sem-posses. Hoje, durante suas folgas, o presidente Fernando Henrique Cardoso pode ser visto com Havaianas sem levantar suspeitas de segundas intenções.
Elas já foram brega, agora viraram “fashion” e festejam 40 anos mais atuais que nunca. Da cesta básica da população carente, as Havaianas conquistaram pés bem-tratados e viajaram para vitrines de Paris, Nova York e Milão. Hoje ocupam os armários de dois em cada três brasileiros e sua participação no mercado continua a aumentar. Só no ano passado, foram 120 milhões de pares vendidos, quase o dobro dos 65 milhões do início da década de 90.
É uma expansão alimentada não somente pela estabilidade econômica, que garantiu à população mais pobre renda para sustentar o grosso das vendas das sandálias. A mágica dos números vem sobretudo da reconquista da classe média e da alta, seus clientes originais. Quando o primeiro par saiu da fábrica da São Paulo Alpargatas, em junho de 1962, a idéia era vender um produto inovador. Os comerciais mostravam uma mulher de maiô à beira da piscina, com Havaianas nos pés. Ao longo dos anos, o calçado não mudou de cara nem de cor. Resultado: perdeu o charme e passou a carregar a fama de ser dirigido a pessoas pouco exigentes. ”Elas se transformaram em artigo popular. Se alguém possuía um par, não tinha coragem de sair de casa com ele”, lembra Carlos Miranda, analista da Ernst & Young. De tão básico, o item chegou a fazer parte da cesta com preços regulados pelo extinto Conselho Interministerial de Preços (CIP), nos anos 70 e 80.
Como produto de massa – e, portanto, de