Dançando com as palavras
Sempre tive muita desenvoltura para dança. Quando era criança minha mãe ~na época evangélica ultra tradicional~ sempre me corrigia por estar envolvido em grupos de dança no colégio. Por vezes participei sem ela saber.
Quando tinha cerca de 8 ou 9 anos, não me recordo ao certo, me encantei com um cartaz que anunciava uma apresentação de balé. Eu fiquei dias e dias com a imagem dos bailarinos em minha mente. Minha mãe percebendo meu encanto e, porque não dizer, já cheia de tanta insistência, resolveu ceder e me levou para ver a apresentação.
Lembro como se fosse hoje quando as cortinas abriram. Eu nem piscava. Verdade, eu fiquei encantado! Naquele momento eu descobri o que eu queria fazer a vida toda: dançar balé. Mas, como ia dizer isso para a minha mãe? O que eu fiz: esperei as festas de fim de ano passar e o ano novo começar ~era o ano de 1995~ para então revelar o meu desejo.
Mas, enga-se você se pensar que eu fiquei parado durante esses dias, que nada, dançava todos os dias. De uma forma errada, é claro mas, esforçava-me para fazer piruetas, tendu e, outros passos que na época eu não sabia o nome. Tudo isso escondido, é claro pois, sabia que a ideia não seria recebida com naturalidade, como realmente não foi.
Lembro-me das tardes que passava sozinho em casa e dançava, dançava, dançava. Imaginava-me como um dos bailarinos que eu vira dias antes. Era uma sensação tão agradável de leveza, liberdade... Na época, nem imaginava o que o futuro me reservava, eu queria mais era dançar, sem parar, ser um dos melhores bailarinos do Brasil ~na época eu não sabia que os melhores bailarinos do mundo estavam fora da nossa nação~.
Do momento que revelei o meu desejo para a minha mãe eu lembro-me pouco. Lembro mais do choro e da dor de ter ouvido um sonoro não. Continuei dançando em casa mas, a leveza e a emoção eram diferentes agora pois, sabia que eu não seria um bailarino como aspirava ser.
Quando se é criança, parece que o mundo vai acabar,