1- Ao depararmos com o cinismo, a delinqüência, a violência e o narcisismo impregnados em homens que tornam confusa a imagem do nosso país, já que estes estão em toda parte, e até mesmo dentro de nós, não é fácil nos depararmos com essa imagem no espelho. Por isso, buscamos nos proteger não pensando muito nos fatos, vendo apenas o indispensável para podermos prosseguir. Mas, ao contrário dessa nossa atitude, o psicanalista Jurandir Freire, quer focar essa imagem frontalmente. Foi relendo Freud e analisando a realidade do país que ele formulou seu esboço de teoria do Brasil. 2- Destacando que Freud mostrou que, sem um olhar que transcenda a realidade, sem um vôo sobre o real, o homem cai na agonia, na atomização, no pânico. E perde a própria humanidade. Freire aponta que, desprovidos de ideais, que produzam ordenação no mundo concreto, homens desnorteados se afogam no temor. Não há homem sem um ideal, pois sendo indivíduos que criam universos de valores que nos permitem viver em comunidade, assumindo compromissos, só através de valores nos tronamos capazes de prometer. De prometer e de cumprir. 3- Fundada sobre o caos, a sociedade humana precisa de artifícios culturais para sobreviver. Assim, são criadas as civilizações em resposta a vulnerabilidade humana frente à esmagadora potência da natureza e a mortalidade. Ao destruir essa segurança cultural que o protege, retardando a morte, esse homem fica desprotegido. Desta forma, sem cultura, além de se tornar o mais desprotegido dos animais, já que a natureza não tem compromissos e para os processos naturais não existe valor, a cultura é a própria condição de sobrevivência do homem no Planeta, é o que observa Freire. 4- Para se entender a vigorosa teoria do Brasil esboçada nos ensaios de Jurandir Freire Costa, toda essa digressão é indispensável. Para ele os indivíduos no Brasil tornaram-se moral e socialmente supérfluos. Nada valem como cidadãos que tem responsabilidade. Em posição de desqualificação e