Cultura um conceito antropologico
LARAIA, Roque de Barros
Na primeira parte deste trabalho discutimos o desenvolvimento, na antropologia, do conceito de cultura. Mostramos também as explicações da ciência para o processo evolução biocultural do homem. Em outras palavras, vimos como a cultura, à principal característica humana, desenvolveu-se simultaneamente com o equipamento fisiológico do homem. Preocupamo-nos então em fornecer uma descrição diacrônica do próprio desenvolvimento teórico da antropologia. Neta segunda parte pretendemos mostrar, de uma maneira mais pratica a atuação da cultura e de que forma ela molda uma vida “num ser biologicamente preparado para viver mil vidas”.
1. A Cultura Condiciona A Visão de Mundo do Homem
Ruth Benedict escreveu em seu livro O crisântemo e a espada que a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, tem visões desencontradas das coisas. Por exemplo, a floresta amazônica não passa para o antropólogo – desprovido de um razoável conhecimento de botânica - de um amontoado confuso de arvores e arbustos, dos mais diversos tamanhos e com uma imensa variedade de tonalidades verdes. A visão que um índio Tupi tem deste mesmo cenário é totalmente diversa: cada um desses vegetais tem um significado qualitativo e uma referencia espacial. Ao invés de dizer como nós: “encontro-lhe na esquina junto ao edifício X”, eles freqüentemente usam determinadas arvores como ponto de referencia. Assim, ao contrario da visão de um mundo vegetal amorfo, a floresta é vista como um conjunto ordenado, constituído de formas vegetais bem definidas.
A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Até recentemente, por exemplo, o homossexual corria o risco de agressões físicas quando