Cultura Texto Marilena Chaui
Sociologia I
Prof. Mauricio Pinheiro
CHAUÍ, Marilena. Cidadania Cultural. O Direito à Cultura. 1. Ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006. PP: 129-147.
Breve biografia da autora:
Professora (livre-docente) titular de filosofia do Departamento de Filosofia da USP e suas áreas de especialização são História da Filosofia Moderna e Filosofia Política.
CULTURA, DEMOCRACIA E SOCIALISMO.
I. ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A CULTURA
Se formos às origens da palavra cultura, veremos que ela significa cultivo, cuidado. Inicialmente, era o cultivo e o cuidado com a terra, donde agricultura, com as crianças, donde puericultura, e com os deuses e o sagrado, donde culto. Cultura era uma ação que conduz à plena realização das potencialidades de alguma coisa ou de alguém, significava: desenvolver, fazendo brotar, frutificar, florescer e cobrir de benefícios.
No correr da história do Ocidente, esse sentido vai se perdendo até que, no século XVIII, a palavra cultura ressurge, mas relacionada a outro conceito, o de civilização. Sabemos que civilização deriva de idéia de vida civil, portanto de vida política e de regime político1. Durante o século XVIII, a cultura é o padrão ou o critério que mede o grau de civilização de uma sociedade. Assim, a cultura passa a ser encarada como um conjunto de práticas (artes, ciências, técnicas, filosofia, ofícios) que permite avaliar e hierarquizar as sociedades, segundo um critério de evolução. No conceito de cultura introduz-se a idéia de tempo, mas de um tempo muito preciso, isto é, contínuo, linear e evolutivo, de tal modo que, pouco a pouco, cultura torna-se sinônimo de progresso. Avalia-se o progresso de uma civilização pela sua cultura e avalia-se a cultura pelo progresso que ela traz a uma civilização.
Esse conceito de cultura, profundamente político e ideológico, reaparece no final do século XIX, quando se constitui um ramo das ciências humanas, a antropologia, o estudo do homem2. No início da