Artigo Conformismo E Resist Ncia
Paulo: Brasiliense, 1994.
Darcilene Sena Rezende*
Marilena Chauí escreveu este livro em 1985, inicialmente para um público estrangeiro, só publicando em nosso país no ano seguinte. Focaliza a
Cultura Popular no Brasil, procurando definí-la e compreender sua dinâmica.
Em um primeiro momento, Chauí aborda as dificuldades de definição da expressão Cultura Popular, discutindo o conceito de "cultura", procurando precisar o conceito de "popular", sobretudo em suas formas predominantes no Brasil, originadas nos pontos de vista "romântico" e "ilustrado".
Contrapondo-se à identificação entre "Cultura de Massa" e "Cultura Popular"
- encontrada tanto entre os "liberais" norte-americanos das décadas de 50 e
60, quanto entre os frankfurtianos -, Marilena propõe distinguí-las, relacionando Cultura de Massa à classe dominante (que a elabora e impõe) e Cultura
Popular à classe dominada. Analisa o comportamento da segunda diante da primeira, em termos de estratégias de aceitação e recusa; assim, enfatiza "a dimensão cultural popular como prática local e temporalmente determinada, como atividade dispersa no interior da cultura dominante, como mescla de conformismo e resistência". (p.43)
Provavelmente mais dirigida ao leitor estrangeiro, a segunda parte do livro busca demonstrar que, a despeito do regime ditatorial vivido por nosso país após 64, não é apenas o Estado brasileiro que é autoritário, mas a própria sociedade civil, estruturada sobre relações de favor, tutela e dependência. Chauí procura mostrar como, ao longo do período de Governo Militar, as classes dominadas brasileiras estiveram lutando para "conquistar o próprio direito à cidadania e constituir-se como sujeito social".(p.62) A autora apresenta várias experiências e estudos como exemplos de atitudes de
*Mestranda em História (FFLCH/USP); bolsista FAPESP
Diálogos, UEM, 01:227 - 233, 1997
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"resistência" cultural popular