Crônica O avô da menina
Muitos causos um tanto engraçados e, sem dúvida, constrangedores, acompanharam-me durante minha vida. Dentre estes, posso afirmar, dos piores destes, foram umas situações que passei na companhia de minha namorada. E olhe que ainda nem namorávamos. Talvez por já ficar envergonhado ao seu lado, às vezes me causavam um trauma grande.
Seus pais eram separados. Ela por sua vez, vivia com os avós. Seu avô era muito rude. Creio que uma mula parida fosse ainda menos difícil de encarar do que ele. Era um senhor com seus sessenta e poucos anos, barriga um pouco saliente, moreno e olhos verdes e contrastantes tal como jamais vi igual, tão convidativos olhos em meio a um extremamente austero olhar.
O cara era mal, via-o como um coronel. Não com quem era da família, mas com quem queria entrar nela. Era sem dúvida, um superprotetor às antigas. Lembro-me bem do fação prateado que ele às vezes embainhava e guardava com tanto carinho, em uma maleta especial. A situação mais amedrontadora que já enfrentei, tirando o caso em que fui assaltado em São Paulo, foi o momento em que o vi limpar aquele facão para guardá-lo. Olhei de longe, por uma brecha, curioso, até o momento em que, em um espelho que estava à sua frente, seus estranguladores olhos esmeralda fixaram-se olhando pra mim. Vi nesse momento, minha vida passar de diante dos meus olhos.
Eu era apenas um amigo da família, mas, desde cedo já paquerava a neta. A esta altura, o velho já devia estar apercebido. Talvez fosse só uma maneira de testar a masculinidade do rapaz que ia de tomar sua amada filha. A menina era bela e assim como o avô, tinha olhos radiantes. Uma autentica moreninha dos olhos verdes, das quais já não se encontra tão formosas e bem regradas hoje em dia.
Me apaixonei pela moreninha quando tinha quatorze anos. Minhas visitas foram ficando mais frequentes, mais frequentes, até que um dia que cheguei lá à noite para vê-la e o severo comandante chegou a me por pra fora. Imaginem a palidez