Crise 2012
O liberalismo moderno de Hayek e a sua ideia de ordem espontânea estão ancorados na filosofia de quatro pensadores principais, Bernard de Mandeville, David Hume, Adam Smith e Adam Ferguson - isto é, no iluminismo escocês do século XVIII e, em particular, em Mandeville e Hume.
O ponto de partida da ordem espontânea de Hayek é Mandeville. Hayek orgulhava-se de ter descoberto Mandeville para o pensamento liberal, e não se cansava de enfatizar a influência que ele teve sobre os outros três pensadores mencionados.
Num livro publicado em 1714, sob o título The Fable of the Bees or Private Vices Public Virtues (repare-se no subtítulo) Mandeville conta o modo como milhões de abelhas, cada uma prosseguindo os seus próprios fins, motivadas pelos seus interesses e paixões e, não raro, vícios e depravações, constroem uma colmeia perfeita e altamente complexa, que nenhuma delas individualmente, por mais inteligente que fosse, alguma vez seria capaz de construir por si só ou por alguém às suas ordens. É nesta analogia da colmeia que Hayek funda a ideia de ordem espontânea nas sociedades humanas.
A tese central de Mandeville era a de que , embora todos os homens invocassem os princípios da moral tradicional para justificar os seus comportamentos, como os da solidariedade, do bem comum, do interesse público, do altruísmo, da caridade, da igualdade, etc., na prática ninguém os seguia, e que o comportamento humano era governado pelo egoísmo, pela vaidade, pelo orgulho e pelo vício, no mais literal sentido do termo. Até aqui a tese não era verdadeiramente original.
Aquilo que a tornou surpreendente foi o facto de Mandeville prosseguir para demonstrar que o egoísmo, a vaidade, o orgulho, o luxo e, geralmente, os vícios humanos, longe de serem danosos para a comunidade, eram precisamente o material de que se faziam as sociedades grandes e prósperas (daí o subtítulo: Vícios Privados, Virtudes Públicas). Os versos mais vezes citados da Fábula resumem a tese