Crime e sobrevivência
Em Memórias de um sobrevivente, Luis Alberto Mendes relata sua trajetória pessoal, vivida entre a liberdade e o confinamento. Não é apenas um livro de memórias, mas um claro painel do sistema carcerário brasileiro desde a década de sessenta até os nossos dias. Nele, percorremos o cotidiano dos institutos de correção para menores e da famosa Casa de Detenção. Engana-se, contudo, o leitor que supõe tratar-se de uma denúncia escandalosa das condições da estrutural prisional. Antes, o que encontramos é uma revelação concreta, porque baseada em passagens de sua vida. É por meio delas, aliás, que toda a tessitura do sistema carcerário nos é descrita. As circunstâncias narradas, conhecidas de tantos leitores que já ouviram relatos semelhantes, não são produtos de inventivas literárias, mas recordações daquele que se supõe um sobrevivente na seara penal.
A questão que talvez a muitos soe descabida consiste em saber por que, depois de tantas vezes confinado e torturado, o autor reincide na prática criminosa, correndo riscos de novamente voltar à prisão. Uma tal inquietude é acentuada pelo realismo da exposição que não poupa detalhes sobre os métodos da tortura empreendida nos institutos correcionais e na prisão. A leitura de certos trechos acaba por nos incitar a interagir com o narrador, como se houvesse a possibilidade de adentrar nos meandros da história e mudar um destino que, desde o início do texto, já se encontra selado. Em razão da tensão constante dos episódios registrados, o leitor flagra-se impotente e coloca-se na posição de um espectador resignado. A ele cabe apenas acompanhar os motivos pelos quais se dá a reincidência mencionada. E não é preciso ler muitas páginas para notar que a prática reiterada do crime está calcada na sedução que o submundo oferece ao protagonista. Armas, drogas,