Crime Padre Amaro 1
AMARO E DO PRIMO BASILIO, DE EÇA DE QUEIRÓS
João Décio
Depois de superar a fase romântica e dos escritos esparsos que iriam formar as Prosas Bárbaras e de escrever em parceria com Ramalho Ortigão, O Mistério da Estrada de Sintra,
Eça de Queirós inicia, propriamente, em 1875, com o lançamento da versão definitiva d'0 Crime do Padre Amaro, a sua melhor fase como romancista e que culminaria com Os Maias.
E m 1877, Eça lança o seu segundo romance, O Primo Basílio.
Os dois citados romances situam-se bem dentro da linha realista: romance de crítica social, de demonstração da existência de chagas morais na sociedade portuguesa. Romances com preocupação evidente de tese, com visível influência da teoria de Taine, do evolucionismo de Darwin e o pessimismo de Schopenhauer; romances, enfim, firmemente colocados no processo de renovação social e humana de Portugal.
O Crime do Padre Amaro constitui o primeiro romance realista de Portugal e relata a vida do pároco Amaro na provinciana cidade de Leiria. Fruto de uma educação errada, desde os verdes anos, Amaro, por indolência e por costume, acaba cursando o seminário e se fazendo padre. Transportado para Leiria, onde campeia a ignorância e especialmente a beatice religiosa e por influência da vida dissipada do Cónego
Dias, vem a conhecer Amélia e por ela se apaixona. O problema moral que se cria, com Amaro tornando-se amante de
Amélia, explica-se por razões de dupla ordem: as individuais, quer dizer, aquelas de Amaro e de Amélia. As do primeiro, a falta de vocação, a sensualidade e a educação viciosa; as da última, a ignorância, a beatice. E m ambos, ainda pesou inexoravelmente, o meio ambiente, quer dizer o espaço mais a atmosfera. Uma passagem do romance dentre tantas, esclarece bem, no tocante ao padre:
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A m a r o era, c o m o d i z i a m os criados, u m " m o s q u i n h a m o r t a " . N u n c a b r i n c a v a , n u n c a p u l a v a ao sol. Se à t a r d e a c o m p a n h