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CRÁTILO: UM DIÁLOGO ACERCA DA LINGUAGEM

Introdução
A linguagem sempre desempenhou um papel fundamental para a Filosofia. Não é um exagero dizer que sem a linguagem não haveria Filosofia: a Filosofia só existe através de uma prática linguística. Por outro lado, agora sim correndo o risco de parecer um exagero, poderíamos dizer que sem linguagem não haveria nem homens – pelo menos não como os conhecemos hoje. O poder cognoscitivo da linguagem sempre foi e ainda é um mistério sobre nossa própria evolução enquanto seres racionais. Reconhecendo a sua importância, a Filosofia, desde o seu “início”, dedicou-lhe grande atenção. Os primeiros filósofos gregos, não abandonaram apenas uma existência dominada pelo mito, mas também o ranço de velhos significados atribuídos a palavras até então pouco compreendidas: sophia, logos, alétheia, epistéme, kósmos, phisys são apenas algumas das palavras que tiveram seus significados regurgitados pela Filosofia. Com o passar dos séculos, as questões a cerca da linguagem, por mais que exigissem novas abordagens – em conformidade com os novos rumos da Filosofia – ainda continuaram mantendo a atenção dos filósofos. O diálogo Crátilo de Platão, talvez o texto mais tardio desta primeira tradição de filósofos a tratarem especificamente da linguagem (antes dele os sofistas, Heráclito, Demócrito e Antístenes já haviam abordado o tema), é o primeiro de toda a cultura Ocidental que nos trouxe de modo completo a concepção de um autor sobre o tema; constituindo-se, provavelmente, o primeiro tratado sobre a linguagem do ocidente. Porém, não por ser o primeiro, ou por reconstituir os passos de figura tão singular para a Filosofia como foi Sócrates, mas principalmente por aquela qualidade dos diálogos de Platão de tratar com tanta propriedade filosófica os temas a que se propunha dissertar, Crátilo é uma das grandes obras da Filosofia. O diálogo irá tratar da questão da justeza dos nomes: de que modo os nomes assumirão os significados que lhes são