Corrupção
Sobre pizzas e panetones
Como agimos diante da corrupção? Há um elenco de tipos à sua escolha José Murilo de Carvalho1
O ano de 2005 termina com cheiro de pizza no ar. A Câmara absolveu o deputado Romeu Queiroz e a Assembléia cearense fez o mesmo como deputado José Nobre Guimarães, dois confessos beneficiários do valerioduto. Teme- se que o mesmo aconteça com os que ainda serão julgados. Nossas retinas tão fatigadas, a bênção Drummond, registram que tem uma pizza no meio do caminho de nossa democracia. Ou um panetone, para homenagear a festa natalina. O fenômeno não é inédito. Mas, no tradicional capítulo da negociata política, o ano de 2005 nos proporcionou duas novidades. A primeira foi a amplitude e a sistematização das transações; a segunda, o fato de ter sido a bandalheira patrocinada pelo partido que tinha a moralidade como ponto de honra, a ponto de ter sido chamado por Brizola de UDN de macacão.As duas novidades, sobretudo a segunda, levaram à retomada do esforço de diagnosticar o fenômeno. Os resultados do esforço não têm sido promissores. Nossas reações e nossas análises repetem- se sem avanços aparentes. A impressão é de que andamos em círculos, como o da própria pizza, e que a corrupção está ganhando a batalha pela força da inércia. Mas, círculo por círculo, faço mais um. Mesmo que se admita que a batalha esteja perdida, é preciso entender por que assim é. Começo com um exercício de mapear as posições mais usuais frente ao fenômeno da corrupção. Muitas delas são, aliás, tão antigas como a própria corrupção. Para começar, há os udenistas. São os indignados radicais que vêem na corrupção o mal por excelência do País. Seu patrono é Capistrano de Abreu, de quem se conhece o projeto de constituição de um artigo único: “Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara”, seguido de um parágrafo único: “Revogam-se as disposições em contrário”. A corrupção é fenômeno pessoal e deve