Corrupção , ética e moral
O ponto de vista mais comum sobre a corrupção corresponde ao que se poderia chamar de perspectiva moral. A perspectiva moral situa no indivíduo a causa da corrupção. O sujeito comete um ato de desonestidade porque é desonesto. Um ambiente é propenso à desonestidade porque as pessoas seriam propensas à desonestidade. Se não existissem pessoas desonestas, ou se seu número fosse muito pequeno, a corrupção seria muito menor do que é.
Conforme esse ponto de vista, o homem molda o ambiente social.
A perspectiva moral acarreta algumas conseqüências. São elas:
Como o problema da corrupção é situado no íntimo das pessoas, o remédio seria formá-las e transformá-las, particularmente pelo proselitismo. Disso decorrem as sistemáticas sugestões no sentido de direcionar o sistema educativo para a “ética” e as propostas de “cruzadas”, “vigílias” etc., apresentadas como o meio mais eficaz de atingir o íntimo das pessoas.
Como o íntimo de alguém é inatingível por outras pessoas, restando apenas o discurso sobre si próprio, a perspectiva moral induz a auto-referência e a demagogia: “Votem em mim porque sou honesto”, “Temos compromisso provado (?) com a ética” etc.
Naturalmente, as raízes da perspectiva moral estão plantadas nas religiões, em nosso caso no catolicismo. Disso decorre não apenas a ênfase no proselitismo (são os códigos morais que justificam socialmente as religiões, e portanto elas dependem da reafirmaçãosistemática desses códigos) como, também, a preocupação tipicamente cristã, e particularmente católica, com a punição.
O que há de errado com tudo isso? Na aparência, nada. É claro que atos de desonestidade são cometidos por pessoas desonestas. É evidente que é melhor votar num indivíduo honesto do que num meliante. É óbvio que atos de corrupção precisam ser punidos. O problema com tudo isso é que é trivial.
Particularmente quanto ao proselitismo como forma de reduzir a