Corrupção: Desde os primórdios.
A corrupção, como mostra Odair da Silva, não é uma exclusividade brasileira. Ela sempre existiu em todos os sistemas e regimes políticos: nas democracias liberais, no socialismo, no fascismo, no nazismo, na social-democracia, em teocracias, governos populistas e ditaduras militares. Mas o esforço de compreensão das raízes da corrupção e da relação da sociedade com esse desvio da lei em um local específico, no caso o Brasil, exige ir além das estatísticas e das definições generalizantes. É necessário analisar minuciosamente a formação social e política do país.
Vivemos, segundo os grandes intérpretes de nossa formação, em uma sociedade calcada nas relações pessoais, familiares, cuja base não estaria alicerçada no princípio de indivíduo e cidadão. É o que nos mostra um dos maiores estudiosos do comportamento do brasileiro, o antropólogo Roberto Da- Matta. Em sua obra "A casa & a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil" (Rocco, 2003), ele descreve o Brasil como heterogêneo, desigual, relacional e inclusivo, onde o que conta não é o cidadão, mas a relação que ele tem com o poder, seja esse poder de qualquer nível, do macropoder do Estado ao micropoder do cotidiano. Segundo DaMatta, tal característica permitiria explicar os desvios e variações da noção de cidadania. Frases autoritárias como "Você sabe com quem está falando?" ainda têm valor e efeito. Emblemática, a frase mencionada e analisada pelo antropólogo é uma das derivações possíveis do tão controverso "jeitinho brasileiro".
Segundo Odair da Silva, o "jeitinho" pode ser encarado de duas formas: pode ter um sentido pejorativo, pois diz que o povo brasileiro arranja sempre um modo de viver sem trabalhar, estudar, pagar impostos e