Cora o de Ouro091
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Uo Eldorado do Juma, a maior corrida do ouro desde Serra Pelada, o patrão se cKama Zé Capeta. Mas só fala em
Deus. U m dos homens mais abençoados pelo metal é i m i crente chamado Ainda Tem, mas ele acredita ter sido vítima do diabo. N a cidade de Apuí, o prefeito esbraveja contra o garimpo, mas o vice abandonou a prefeitura e amealhou mais de dois quilos de ouro com os dois p é s enfiados na lama. Zé da Balsa e Mariano descobriram a grota rica, mas foram arrancados dela no cano^ da espingarda.
A igreja se esvaziou de fiéis, mas a dama mais distinta da cidade inaugurou seu cabaré com u m leilão de meninas.
Às margens do rio. Juma as prostitutas cobram em gramas dourados, mas sentem prazer e a t é se apaixopam. Parece ficção de Dias Gomes, mas é tudo real. E se passa agora no sul do Amazonas.
Esse enredo de deus e de diabo se desenrola Hes^de
• bre u m pedaço brutalizado de selva: Menos de três meses
dezembro sob o calor úmido de quase quarenta graus do
atrás era floresta virgem. Agora-é uma cratera. Dentro dela,
inverno amazônico, a 460 quilómetros de Manaus. E a
5 m i l homens com febre nos olhos e pernas atoladas no
quase oitenta quilómetros de Apuí, cidade com menos de
barro arrancam o ouro das vísceras do.chão. Do modo an-
20 m i l habitantes forjada ha beira da Transamazônica por
tigo, manual, porque as máquinas pesadas (ainda) estão
um assentamento do Incra nos anos oitenta. Caminhone-
proibidas. Como todo garimpo, o Eldorado do Juma é u m
tes, ônibus, motos e barcos vomitam dezenas de brasileiros
caldeirão em que se incineram paixões humanas.'E nem
por dia, vindos de todas- as dobras do mapa. Alinham-se
sernpre elas cheiram bem.
num estacionamento dg-lama. Nele, o porteiro do inferno é u m pastor de Detfs.
Quase duas dezenas de órgãos govemMientais hgàdos à segurança, à mineração e ao meio ambiente deseinbar-'
Com tonitruante sotaque alemão e voz de pregador,
caram na cidade de Apuí