contos
Pedro Sasse.
Escrito por João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, mais conhecido como João do Rio, o conto Dentro da noite faz parte de uma coletânea de contos de mesmo nome, publicada em 1910. O livro Dentro da noite tem como tema comum a perversão humana, em suas variadas e inusitadas formas, compartilhadas pelos seus personagens em requintados salões afrancesados, onde as histórias vão sendo oferecidas – como aperitivos – ao leitor. João do Rio, jornalista e escritor de profissão, nascido no centro do Rio de Janeiro, nos mostra em sua obra um retrato sombrio da Capital Federal no início do século XX, trazendo à luz relatos no mínimo perturbadores, história dessas que se ouvem quando menos se espera e quando nos damos conta já não conseguimos deixar de ouvir.
Devemos antes de analisar o conto em si, ter em conta alguns aspectos sobre a atmosfera do Rio de Janeiro nos fins do século XIX e começo do XX. A cidade encontrase nessa época no limiar do caos urbano, após um massivo crescimento de sua população, o incremento das ocupações irregulares, a pouca eficácia do sistema público. O “choque de ordem” feito por Pereira Passos só tem início em 1904, ou seja, estamos diante de uma cidade no ápice de um ciclo de mudanças, no processo de destruição e reconstrução. A iluminação nas ruas só começa a ser efetiva a partir de
1907, fazendo dessa época a primeira a estender a volúpia das festas noite adentro.
Porém, longe das zonas mais prestigiosas da cidade, ainda vemos um Rio entregue ao descaso, vemos os miseráveis empurrados para uma periferia desestruturada. Logo, o
Rio é, sobretudo, nessa época, um misto entre o requinte da modernidade aos moldes franceses e os restos apodrecidos de uma velha metrópole que crescera desordenadamente. Nesse cenário surgem fatos, personagens, histórias que oscilam entre esses dois mundos, que habitam seu limiar, que assustam e fascinam os demais. Dentre elas