contos
Na primeira parte do livro, os autores analisam contos infantis que contemplam o medo da agressividade sexual dos pais incestuosos, assim como da rejeição inconsciente de algumas mães por suas crias. O tema das madrastas invejosas e más- em branca de neve e cinderela, por exemplo- interessa ás crianças porque nomeiam indiretamente a rivalidade das mães em relação as suas filhas, que o mito da perfeição do amor materno obriga a recalcar. A sobrevivência de diversas histórias de abandono das crianças por mães/madrastas egoístas, na linha de João e Maria e Pequeno Polegar, indica que as crianças querem saber dos limites e da ambivalência do amor materno. A sobrevivência de uma das histórias infantis mais populares, a saga do pobre patinho feio expulso da convivência com os irmãos bem nascidos, indica nas palavras dos autores, que toda a criança conhece a experiência de sentir-se uma “estranha no ninho”. Ouvir histórias é um dos recursos de que as crianças dispõem para desenhar o mapa imaginário que indica seu lugar, na família e no mundo.
Contar histórias é ainda uma das melhores maneiras de ocupar o lugar geracional que cabe aos pais, junto a seus filhos.
A paixão pela fantasia começa muito cedo, não existe infância sem ela, e a fantasia se alimenta da ficção, portanto não existe infância sem ficção. Observamos que, a partir dos quatros últimos séculos, quando a infância passou a ter importância social, as narrativas folclóricas tradicionais, os ditos contos de fadas, constituíram-se numa forma de ficção que foi progressivamente se direcionando para o público infantil. Hoje, os contos de fadas são considerados coisa de criança, mas curiosamente muitos deles continuam estruturalmente parecidos