Conto
Joelma Santana Siqueira (ufV) jandraus@ufv.br reSumo: o presente artigo analisa o conto “a menor mulher do mundo” com o objetivo de discutir como a narrativa da recepção da notícia jornalística sobre a descoberta de uma pigméia (considerada a menor mulher do mundo) em lares burgueses flagra questões importantes relacionadas aos sentimentos humanos em família e acaba por revelar modos como o sujeito moderno vê o primitivo, sem enfatizar puramente o que os distanciam. palaVraS-chaVeS: clarice lispector; família; simulacro.
No início do conto “a menor mulher do mundo”, publicado na obra Laços de família (1960), de clarice lispector, o narrador nos informa que, na África, um pesquisador chamado Marcel Pretre, em contato com pigmeus, ficou sabendo da existência de povo menor em florestas distantes e partiu ao encontro deste. No Congo Central, “como uma caixa dentro de uma caixa, dentro de uma caixa”, estavam os menores pigmeus do mundo e, entre esses, uma mulher de quarenta e cinco centímetros, “madura, negra, calada”. e logo marcel pretre descobriu que a menor mulher do mundo estava grávida. Enquanto, na África, o pesquisador tenta classificar o seu achado, o narrador revela o sentimento que a pigméia desperta nesse homem moderno: “foi então que o explorador disse timidamente e com a delicadeza de sentimentos de que sua esposa jamais o julgara capaz: – Você é pequena flor” (LF1 78). o narrador destaca a falta de delicadeza de sentimentos do marido para a esposa. Realizando um corte no instante atual, sem indicar o novo espaço geográfico abordado, o narrador informa que a fotografia da pigméia foi publicada no suplemento colorido dos jornais de domingo, e seis ocorrências da recepção que a notícia teve
1 Nota Bene: as citações de Laços de família serão feitas como LF
Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários Volume 20 (dez. 2010) – 1-66 – ISSN 1678-2054