conto

638 palavras 3 páginas
A maioria de nos tem medo do escuro. Não adianta disfarçar fazendo posse de superioridade. Quando se esta sozinho num lugar razoavelmente escuro, num horário lunar, cada sombra nos cantos atrai suspeita, e basta um ruído ser pouco convencional para se configurar o estado de alerta da consciência, para queremos saber “o que foi isso?”.
Cristina tem essas sensações mais aguçadas do que a maior parte de nos e fica desconfiado com facilidade, salvo nos momentos em que esta absorto por completo em seu trabalho. Graças a sua situação financeira, contudo, encontrava-se forçado a reduzir os gastos energéticos, e isso não podia ser feito desligando o PC, fonte de seu trabalho como professora de espanhol.
Era então obrigado a trabalhar à noite com luzes apagadas, ouvindo somente o correr da CPU e os próprios ataques ao canudo para sugar o refrigerante barato que satisfazia parcialmente sua constante sede. Pensava melhor assim.
Ocupava-se, certa noite nas férias de julho, fazendo as provas, colocando questões dos índices desconhecidos ou esquecidos e recoloca-los entre os índices descolados e levemente subversivos. Que era feito pelo programa Word. A coisa estava seria, e os banhos, raros e frios. Isolado em sua casinha, telefones desligados, internet desconectada, Pablo envolvia-se pela luz do computador, papeis espalhados pela escrivaninha, alguns manchados de café, sucos e outras coisas, e raciocinava. Atrás de si, a cozinha, separada da sala apenas por uma espécie de balcão, e ao lado direito de sua base, a porta para o quarto, fechada. Era aflitivo deixa-la aberta.
O sitio, modesto, herança de pai, se achava nas imediações de são Paulo, local agradável, dotado do silencio necessário para se desenvolver o trabalho intelectual adequado. Ao anoitecer, admito que era estranho por la.
Cristina estava ali, sozinho, concentradíssimo nos seus afazeres. Eram mais ou menos duas da manha quando o recipiente do detergente expulsou o ar de seu interior, assustando ela. Isso

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