Conto

1RTVA Você escutou o trovão?

Calor. Nunca tinha sentido tanto calor na vida. Meu cabelo preso num coque desgrenhado e as roupas de verão não eram suficientes pra acabar com o desconforto proporcionado pela temperatura. Ouvi uma trovoada abafada pelos prédios da Av. Paulista. Pelo menos aliviaria o calor. A chuva seria a única parte boa do meu trágico dia. Depois de não ter conseguido fazer meu professor de história da arte aceitar o trabalho decisivo na conclusão do meu curso sete minutos atrasado, brigar por telefone com a minha mãe por ter me feito chegar atrasada, quebrar meu celular novo tacando ele no chão de tanta raiva e esbarrar com meu ex-namorado e a sua atual, uma mera chuva durante a caminhada (um viva para o metrô que não estava funcionando, de novo) para casa não seria nada. Seria até bom para resfriar a cabeça. Comecei a sentir os primeiros pingos ganhando força conforme eu caminhava e em poucos segundos já estava encharcada. Passei na frente de uma farmácia e sua fachada estava sendo dividida por pessoas que não queriam se molhar, e assim era em quase todos os outros lugares em que passava.
Olhava meus pés pisando nas poças d’água.
Era bem tranquilizante.
POW. Minha cabeça latejava agora. Eu tinha trombado com alguma coisa estava caída no chão da calçada (óbvio que dentro de uma poça), além de meio tonta. E foi ai que eu desabei. Comecei a chorar muito. De tristeza, de desespero, de raiva, de desabafo. Vi uma mão estendida pra mim e quando a peguei, a pessoa me puxou muito rápido. Cambaleei, mas a pessoa me segurou e me levou para de baixo da cúpula de vidro da estação Trianon-MASP. Ela falava algumas coisas pra mim, mas eu não estava entendendo nada. Minha visão estava meio turva, eu ainda estava meio tonta e eu não sabia de onde estava vindo a voz que falava comigo. E foi então que eu vi quem era a pessoa. Meu queixo caiu no chão. Loiro dos olhos meio acinzentados, um menino tão molhado quanto eu andava de um lado pro