Conto de mistério - Inimigo Silencioso
Sentado na sala o velho Almirante aposentado, folheava o jornal enquanto preparava seu charuto cubano com o cortador em formato de guilhotina que trouxera de sua viagem a Honduras. Desde que sua filha saíra de casa, ele morava sozinho com a mulher em uma luxuosa casa em um bairro nobre e reservado. Ultimamente seus únicos interesses eram ler as notícias do dia e cuidar de suas orquídeas, pelas quais tinha extrema afeição. Sua mulher não entendia porque dava tanta atenção para aquelas flores inúteis, mas sabia que era a única coisa que ele realmente gostava. Guardava todo seu conhecimento de anos na marinha e no exército para si, e raramente conversava. Seu companheiro mais fiel era o copo de uísque escocês, e o malte já fazia parte da composição de seu sangue. Alguns anos antes se mudaram para aquela casa, para que pudesse ter mais espaço para seu orquidário, onde desde então passava maior parte de seu tempo. Todo dia ao acordar buscava o jornal e acendia seu charuto matinal. Brincava com a fumaça, fazendo-a sair pelo nariz, habilidade que desenvolveu conforme foi ganhando experiência. Logo se dirigia ao orquidário para cuidar das flores; tinha um cuidado especial com cada pétala e mesmo quando terminava o trabalho ficava horas as contemplando. De uns tempos pra cá vinha se sentindo diferente, já não era a mesma pessoa desde que saiu da marinha. Toda sua vitalidade e força foram se esmaecendo com a idade, estava se tornando uma pessoa acomodada. Lembrava saudoso das esquadras que comandou, dos lugares por onde passou e das medalhas que recebeu. Já sentia os efeitos do tempo, percebia que sua memória começava a falhar, e que seu corpo já não tinha o mesmo vigor, além disso, nos últimos dias vinha sentindo uma dor na parte de trás da cabeça, que ele atribuía aos óculos. Nunca dera muita importância para sua saúde, pois sempre tivera outras prioridades e acreditava que não havia melhor remédio que o álcool. Em uma das suas