Consciencia negra
Cultura negra e educação
Nilma Lino Gomes
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação
Denys Cuche (1999, p. 9), ao discutir a noção de cultura nas ciências sociais, destaca que o problema da cultura ou das culturas passa por um processo de atualização tanto no plano intelectual, quanto no plano político. O autor inicia essa discussão já na Introdução do seu livro, com uma epígrafe do antropólogo
Marc Augé (1988). Nela, Marc Augé argumenta que, nos últimos anos, na França, a cultura tem sido bem mais destacada do que há tempos atrás. Segundo ele, esse uso da palavra cultura, por mais descontrolado que possa parecer, constitui por si mesmo um dado etnológico. Guardadas as devidas proporções, podemos observar que um fato semelhante vem ocorrendo nos últimos anos no Brasil, e mais especificamente no campo da educação. Também entre nós, educadores e educadoras, nunca se falou tanto em cultura quanto hoje: cultura escolar, cultura da escola, diversidade cultural, multiculturalismo, interculturalismo, sujeitos socioculturais, cultura juvenil, cultura indígena, cultura negra...
Por mais que tal apelo à cultura possa significar um modismo pedagógico, ou o mais novo jargão da
Revista Brasileira de Educação
nossa área, ou uma mudança de paradigmas, acredito que só o fato da palavra cultura começar a fazer parte
(ou voltar a fazer parte) do vocabulário educacional já constitui um dado pedagógico que merece nossa atenção. Constitui uma inflexão no pensamento educacional, fruto das mudanças ocorridas em nossa sociedade devido às ações e demandas dos movimentos sociais, dos grupos sociais e étnicos.
Mas se a ênfase na discussão da cultura no campo educacional se restringir ao simples elogio às diferenças ou ficar reduzida aos estudos do campo do currículo e da cultura escolar, corremos o risco de não explorar toda a riqueza que tal inflexão pode nos trazer.
A cultura, seja na educação ou nas ciências sociais, é mais do que um conceito