concilio dos deuses e brigida vaz e corregedor- auto barca do inferno
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138 (III-1.1)A este concílio dos donos de todas as coisas, eu, Vénus, deusa do mais afamado sentimento, peço bom senso e respeito por aqueles que se aventuram por mares nunca dantes navegados.
Este povo ilustre que canta o peito lusitano, para além do destino que lhe está traçado, merece uma estrada de luz e uma gruta de descanso, pois suas venturas têm sido tantas, que o repouso lhe é devido como bem maior e prometido.
Não deve ser, e acredito que não será, esse louvor ao vinho por vezes impuro, que trará boas bonanças a uma terra que não vê quem adora. O medo que habita no coração daquele que se declara contra a vossa decisão, deus de todos os deuses, não deve ser motivo para desamparo daqueles que por muito lutaram, muito conquistaram e mais ainda têm a louvar.
Meu amor lhes entrego e seu amor em mim sinto. Que este povo meu e por mim reconhecido conheça calmo mar, amena noite e quente aconchego, antes de proclamar o seu fado, decisivamente traçado.
Júpiter, mais uma vez, a vós e só a vós apelo: mantei vossa posição solidária; ajudai estes navios a conhecer a terra africana. Não deixes que o amargo licor adocique vossos ouvidos. Fazei um pouco por um povo que muito conquista.
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DIÁLOGO BRÍGIDA VAZ E CORREGEDOR
BRI. Destino o meu, destino o meu…
Em vida tanto sofri, tanto lutei e de nada me valeu.
COR. De nada lhe valeu, grosso modo; valeu-lhe de muito pela vida que levou: boémia, mentira, et caetera…
Se mais não fez foi porque não se aproveitou.
BRI. Ah! Meu indecente! Aproveitar, aproveitaste-te tu!
Muita vez estive por baixo de ti em tribunal; e tu muitas vezes estiveste por baixo de mim, sem te queixares de algum mal.
COR. Ex aequo vivi e de igual forma me tramei.
Se sabia, teria feito como o meu amigo Onzeneiro: para gozar a vida e me aposentar cedinho, per capita lixava mais dinheiro!
BRI. Corregedor cruel, nem a morte te lavou esse fel!
COR. Stricto sensu só tramaria o rico e, está claro o pobre que não me